Reconto de "A maior flor do mundo"

A Maior Flor do Mundo
recontada por Sofia Dias

Ouço o som do carro a ligar-se e apresso-me a descer as escadas brancas cal que se direcionam para a garagem onde o papá e a mamã me esperam. O papá está dentro do carro e a mamã está agachada à espera de um beijo meu. Dou-lhe então um beijinho ternurento e corro até ao carro parado à minha espera na entrada. Abro a porta da frente e o papá olha-me com aquela cara que desaprovadora. A mesma história de sempre! Mas eu já tenho um metro e quarenta e seis. Estou quase na altura indicada para se viajar à frente… mas entretanto o papá deixa-se descontrair e dá-me uma cara sorridente, aprovando onde estou, mas quase como que dizendo:
- Só desta vez Raul!… Só desta vez!
Fecho a porta, o carro arranca e ligo o rádio. Este está a dar uma música rock que o papá parece entusiasmado em ouvir. Porém eu não quero saber daquelas músicas. O lugar para onde vou é deveras melhor. Só me quero concentrar nisso, e no que lá vou fazer. Na minha missão! Descobrir uma árvore para embelezar o meu jardim.
O papá abana-me trazendo-me à realidade e avisa-me que chegámos. Abro a porta, saltando para a erva verde. Olho em meu redor.
O verde preenche uma pequena parte do quadro. Existem por volta de 14 montes, mas o primeiro monte é o maior de todos e no cume tem uma flor. Achei que esta ficaria melhor sozinha, mais bonita, mais exposta. Debaixo da flor encontra-se um escaravelho, é pequenino e preto. Remexo no meu bolso e de lá tiro uma pequena caixa, onde coloco o bichinho, que a partir de agora se vai chamar Roberto. Digo ao papá, então, para avançar e ele escava o pequeno buraco para retirar a árvore. Depois de tudo isto inspiro ar fresco da brisa, sorrio e corro monte abaixo, ansioso por mostrar o Roberto à mama.
Mal chego a casa, tento mostrar-lho, mas ela vai falar com o papá.
Reparo que não há movimento na caixa. E se ele morreu? Levanto um bocadinho da tampa e quando dou por mim, o Roberto já tinha fugido. Não deve ter gostado da casa que lhe arranjei. Berro então :
- EU ARRANJO UMA NOVA! EU ARRANJO UMA NOVA!
Mas ele continua a voar e passa o muro.
Como o papá e a mamã estão distraídos, puxo o banco laranja, mas este é muito baixo então puxo o escadote que se encontrava à minha esquerda. Puxo-o, subo e salto o muro.
O terreno onde parotem muitas placas a dizer: PERIGO! Mas como o Roberto está a fugir, continuo a correr. Percorrido o caminho todo, paro num sítio que desconheço. Uma ribeira com água extremamente límpida e sossegada. Passo para o outro lado e vou ter a um beco que parece não ter saída. É verdejante, coberto com arbustos e árvores e flores. Roberto continua a fugir, provavelmente, não gostou! Volto a correr atrás dele. Vou dar ao monte onde ainda pouco eu e o papá tínhamos estado.
Mas isto está diferente. Está triste. Seco. E a flor, que ainda há pouco estava alegre, está agora murcha, caída.
Olho à volta vejo o Roberto na sua azáfama.
Por mais que o queira de volta, aquela flor à minha frente merece viver feliz. Volto, então atrás, àquela ribeira por onde eu tinha passado, e com as minhas pequenas mãos levo água. Caminho uma, outra e outra e outra vez para deixar a água escorrer pelos os meus dedos e cair sobre a flor.
Aos poucos, esta ergue-se, mais forte, mais imponente, mais feliz, mais bonita, maior. E eu, cansado, mas feliz, deixo o meu corpo embater no chão e desligar-se, ainda sinto uma pétala suave a aconchegar-me com carinho, protegendo-me da aragem.
- RAUL! RAUL, FILHO!
Os meus pais chamam-me, aliviados e, ao mesmo tempo, espantados com a beleza da gigante flor.
Olho-a com ternura e despeço-me do meu amigo Roberto.
Chego a casa, olho, então, para o horizonte, embelezado agora por aquela flor gigante no meio do cenário artificial, criado pelo egoísmo e ambição dos homens. Aceno com a cabeça em sinal de reconhecimento.
Esta é agora a vista mais apreciada de sempre


É a maior flor do mundo.

Sofia Dias, 9ºA

 

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