Carta a Maria Velho da Costa A vivência de Maria Velho da Costa encontra-se espelhada na sua maneira de ser: declarou, numa entrevista, que o seu ar austero esconde uma pessoa terna e carinhosa. Perdoar-me-á ao dizer-lhe que, realmente, não é este último género de pessoa que aparenta ser – a própria afirmou que não o deixa transparecer. “Mas porquê?”, pergunto. Pergunto, porém temo saber a resposta: foi a vida que teve que a fez como é. A injustiça de que foi alvo – e não me refiro só à relatada/metaforizada em Novas Cartas Portuguesas – deixou-a, a meu ver, desiludida com o Mundo. Não pertencia a ele, ou pelo menos os outros faziam com que quisesse não lhe pertencesse. Achou, por necessidade, fingir-se de zangada com tudo e todos; talvez, desse modo, se arrependessem do que lhe haviam feito. E, somente para os que a tratavam bem – as suas “manas”, por exemplo –, revelava a pessoa que, de facto, era: alguém, segundo diz, atenta e simpática. Se ca