Pétalas literárias
Carta a Maria Isabel Barreno
Na
maneira como fala, noto segurança e destemor. E, embora tendo por base apenas Novas Cartas Portuguesas, as mesmas
ilações se podem tirar da forma como escreve. São essas características que
ajudaram a fazer desta obra uma genuína voz, que gritava uma inabalável vontade
de mudança e um destemido inconformismo. Apesar de nem sempre as esperanças no
sucesso das cartas terem sido as maiores (ainda para mais, o processo de
tribunal de que depois foram alvo – a Maria Isabel e a sua irmandade – não terá
ajudado à melhoria dessa mesma convicção), nunca desistiram do projeto:
concluíram-no e editaram-no. Todavia, durante pouco tempo esteve à venda em Portugal. Tal não
foi, ao contrário do que se possa pensar, o ponto final na travessia da
história de Novas Cartas Portuguesas
– esta ainda agora tinha iniciado. Acharam por bem fazer chegar exemplares da
obra a conceituadas autoras francesas; e aí se demonstrou o poder das mulheres,
tão defendido e enaltecido na obra em questão.
O mundo entrou em alvoroço,
Portugal estava no centro das atenções, mas não era visto com bons olhos. Todos
sabemos que um país vive muito da maneira como é visto pelos seus vizinhos,
neste bairro em que todos se dizem conhecer, e ao qual damos o nome de “Terra”.
Foi o princípio da retoma dos direitos – não só da mulher, mas de todos os
cidadãos (não pensais, estou seguro, de que éreis as únicas injustiçadas no
meio de todo o flagelo ditatorial).
Serve, portanto, esta curta
carta como forma de agradecimento por nunca terem desistido de chegar ao topo
da montanha, contra tempestades de neve e ventos contraditórios. Um grande
obrigado por terem incentivado à mudança, ciente(s) dos perigos a que se
submeteu (submeteram) na longa caminhada que tinha por fim a concessão da
liberdade. Tenho pena que nem todos os portugueses tenham noção do impacto que Novas Cartas Portuguesas teve há quatro
décadas atrás, e que, por isso, não valorizem os sacrifícios por que as suas
autoras passaram. O meu agradecimento final vai para si, claro, pela sua
perseverança em ver edificada a justiça numa época em que, em Portugal, eram
quase uma utopia imaginá-la.
Eduardo Nunes
Literatura Portuguesa, 10º F
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