Dia Mundial da Filosofia

No passado dia 17 de novembro de 2022, realizou-se a comemoração do Dia Mundial da Filosofia. Uma comemoração que foi além do convencional. Não só foi construído um mural com cartazes elaborados pelos próprios alunos de Filosofia, como também houve a possibilidade de assistir a um sarau musical que encheu a plateia do Grande Auditório. Neste espetáculo, a que variadas turmas do secundário tiveram a oportunidade e a honra de assistir, apresentou-se uma conversa com Rui Pato, a qual foi acompanhada por diversos músicos com um impacto significativo nas vidas dos alunos e nas vidas das gerações anteriores às deles. O maior exemplo, não só por ter sido seu colega nos tempos de faculdade mas também enquanto músico, foi José Afonso. Nesta conversa, foram relatados momentos, como a crise académica de 1969. Entre esses momentos de partilha de vida e de experiências, houve igualmente, momentos de partilha musical. Contou-se com a participação do grupo FADVOCAL (um grupo de fado de Coimbra inicialmente composto apenas por juristas do distrito de Coimbra), com o violino Manuel Rocha, Paulo Larguesa a tocar guitarra clássica e a voz de António Dinis. Juntos, propiciaram aos alunos um momento de partilha única, invulgar nas escolas. No entanto, não só de música e diálogo se fez este espetáculo. Iniciou-se com um vídeo dos alunos do Curso de Dança do 10ºE, Alice Antunes, Ana Martins e Martim Rodrigues, que, executando meticulosamente uma coreografia para a música “Pedra Filosofal” de Manuel Freire, introduziram o tema deste sarau: “Música e Revolução”. A Filosofia é mais do que uma disciplina, é um momento que dá ferramentas aos alunos para pensarem por eles mesmos, para desenvolverem ideias próprias e não se deixarem cair na tentação de seguir ideias preconcebidas da sociedade. É esse pensamento, um pensamento fora da caixa, que não se contenta com aquilo que lhe é imposto, que dá origem às revoluções. Revolução nada é mais é do que uma transformação, uma mudança profunda. No entanto, não é possível mudar sem ideias novas, sem haver pelo menos uma pessoa que foi capaz de pensar “fora da caixa”, sem haver um momento de coragem da comunidade envolvida. É isto o que a Filosofia ensina, a alunos e cidadãos, e, com este momento de “Música e Revolução”, organizado pelo grupo das professoras de Filosofia, os alunos puderam ver que pensar autonomamente, que ter ideias novas, é mais do que meras palavras num papel, num manual da disciplina. Pensar dá origens a mudanças, revoluções que, por muito pequenas que possam parecer, têm algum tipo de impacto na vida de alguém. A música também nada mais é do que a expressão de sentimentos, de ideias, de um modo que não é falado. Daí, a união dos conceitos “Música e Revolução” ter sido o mote para a celebração do Dia Mundial da Filosofia na Quinta. Este dia 17 de novembro foi mais do que uma mera comemoração. Foi um momento de aprendizagem diferenciado que sempre será relembrado pelos alunos e professores que tiveram a oportunidade de assistir. 

10.ºC / professora de Filosofia Patrícia Porto

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Música e Revolução 

A música é a arte que, através da sua linguagem emocional, fortalece a conexão entre os seres humanos, estando presente em todos os momentos da História e da evolução do mundo. No decurso da História, a música teve várias funções: surgiu com as primeiras comunidades do Paleolítico, possivelmente ligada a rituais mágicos; foi utilizada pelos egípcios e gregos, para louvar os deuses; cantada pelos trovadores na época medieval, para recreação da corte; e foi um instrumento de manifestação política, enquanto o mundo enfrentava os primeiros regimes totalitários que punham em risco a democracia nas décadas de 20 e 30 do século XX. A música é a arte que nos permite pensar e refletir, transmitindo os pensamentos que não conseguem ser verbalizados, para uma linguagem mais sensível e emotiva. Para além de servir de entretenimento, expressar sentimentos e ideais, a música é das mais elevadas formas de pensamento. É a partir da composição e audição da música que o Homem consegue utilizar a sua reflexão crítica e tratar os seus próprios pensamentos de uma outra perspetiva. Tal como a Filosofia pretende fazer, a música ajuda os indivíduos a irem para além dos seus limites e contrariar aquilo que já foi feito, ao expor os seus pensamentos de uma maneira irreverente. A música, o pensamento que se fala, deve ser composta com sensibilidade e inovação e nunca por normas rígidas, da mesma maneira que a Filosofia, que não se conforma com verdades feitas, com crenças e preconceitos. A música de intervenção é um “tipo de música composta para chamar a atenção para um determinado problema da atualidade”, produzida em vários locais e em vários momentos da História. Durante a década de 60 e 70, por exemplo, a música de intervenção difundiu-se em Portugal, quando o nosso país vivia num regime ditatorial de tipo fascista que silenciava os cidadãos. Perante a opressão que era então feita à cultura, os artistas de intervenção contrariavam as regras e normas, expressando, através da música, a sua opinião e descontentamento perante o que lhes era imposto. Com a exposição, no mural da nossa escola, de cartazes que contém letras das maiores e mais impactantes músicas de intervenção portuguesas, celebramos o Dia Mundial da Filosofia. A atividade filosófica e reflexão crítica estavam, nos 48 anos vividos em ditadura, escondidas nas vozes de José Mário Branco, Sérgio Godinho, Zeca Afonso e tantos outros, que faziam um retrato do nosso país e procuravam na música a liberdade que lhes era limitada pelo poder. Assim, mostramos que as músicas compostas por estes portugueses, são um dos maiores legados da atividade filosófica. Como diz o poema de Manuel Alegre na voz de Adriano Correia de Oliveira, “Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão / Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”.

10.ºF / professora de Filosofia Patrícia Porto

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