Entrega do prémio ao vencedor do Concurso "Conto de Natal"

Durante mais uma sessão do (En)canto da Leitura, foi entregue o prémio ao aluno Eduardo Nunes, vencedor do Concurso "Conto de Natal". Muitos parabéns a todos os participantes!
Muitos parabéns ao Eduardo! Continua a escrever!

Transcrevemos a seguir o Conto de Natal premiado:

Um Natal Diferente


Esta história que vou contar é sobre uma menina e um Natal completamente diferente dos que ela já tinha vivido.
Sofia tinha doze anos, vivia numa pequena vila no Interior de Portugal e todos os seus Natais eram iguais de ano para ano, mas sempre repletos de magia. Tal como muitas famílias espalhadas pelo mundo, a sua também se reunia e trocava prendas; mas, ao contrário de muitas famílias espalhadas pelo mundo, a parte que Sofia preferia nos seus Natais era quando, à meia-noite, o seu avô se sentava num cadeirão perto da televisão da sala, conseguindo concentrar em si os mais de quarenta olhos existentes na sala, e começava a contar as mais belas histórias de Natal. Para Sofia, permanecia um mistério o facto de ele conseguir inventar tantas, belas e longas histórias de Natal, de ano para ano, sempre diferentes, mas todas com um objectivo de dar a conhecer o verdadeiro valor do Natal.
Era tudo muito belo, fascinante e tipicamente natalício, até que…
* * *
Naquele ano, o Natal ia ser diferente. A família iria reunir-se mais uma vez em sua casa, iria trocar as prendas, iria comer as fatias douradas, o bolo-rei, os frutos secos… Mas, à meia-noite, o avô não iria sentar-se no cadeirão perto da televisão, não iria concentrar em si os mais de quarenta olhos existentes na sala e nem contaria as mais belas e fascinantes histórias de Natal. O avô de Sofia havia falecido há pouco tempo, e a neta tinha a certeza que o Natal nunca mais iria ter a usual magia que até agora tinha tido, uma vez que não havia histórias para contar. Mas ela parecia ser a única preocupada com isso.
O dia vinte e quatro de Dezembro chegou rapidamente. Sofia acordou molengona e ensonada, sem vontade de apreciar aquele dia. Abriu as cortinas do quarto, e observou uma paisagem branca, repleta de neve: grandes lençóis brancos estendiam-se pelos montes, no horizonte, e a sua vila também não escapava à longa manta de neve. Apesar de viver no interior, Sofia nunca tinha visto nevar. Abriu as janelas, e um frio gelado invadiu-lhe o quarto. O parapeito exterior da janela estava coberto de neve. Emocionada, pegou nos pequenos e delicados flocos daquele material branco que se desfazia com facilidade nas mãos, e lavou a cara com eles, deixando-os derreter na face. Que maravilhosa sensação! Que linda era aquela paisagem!
Durante os momentos em que contemplara aquele magnífico espectáculo de neve, não pensara em como seria o Natal sem o avô e as suas histórias, e quando estes pensamentos voltaram a entrar na sua cabeça, toda aquela magia que a neve provocara pareceu subitamente desaparecer.
Vestiu-se e desceu as escadas para a sala de estar, saudando os pais e alguns membros da família que já tinham chegado, com um “Feliz Natal” sem emoção. Claro que estranharam a sua falta de alegria naquele Natal pois, nesta época festiva, ela costumava ser a pessoa mais bem-disposta da casa. Sofia ainda não tinha contado a ninguém como se sentia em relação àquele Natal, nem o tencionava fazer; sabia que ninguém a podia ajudar a fazer sentir-se melhor, portanto nem sequer ponderou isso.
À medida que as horas passavam, a casa ia ficando cada vez mais preenchida de convidados e alegria. As prendas que cada um trazia eram postas debaixo do pinheiro artificial de Natal que os pais de Sofia, com a sua ajuda , tinham montado no início do mês. Um grande monte de cores e de laços de prendas ia gradualmente aumentando, deixando cada vez menos espaço para as pessoas circularem.
Todos estavam à mesa para jantar às horas habituais; todos, menos o avô José. O jantar estava repleto de gargalhadas e de longas conversas alegres; apenas Sofia não contribuía para aquele ambiente.
Depois veio a habitual troca de prendas, mas não houve a típica história do menino Jesus e dos três Reis Magos, não veio a história da família Fonseca e o seu pobre mas feliz Natal, e nem o cadeirão, onde tantas vezes o avô José se sentara para contar as suas histórias, estava no mesmo sítio. Os olhos de Sofia encheram-se de lágrimas, e foi a correr para o quarto, deixando todos os membros da família surpreendidos com aquela atitude.
* * *
A menina deitou-se na cama, continuando a chorar, e enfiou-se dentro dos lençóis. Ela apenas queria que aquela festa acabasse, pois se o avô José não estava ali, aquilo, simplesmente, não era Natal!
Foi no meio destes pensamentos de desespero que, iluminando o seu quarto por inteiro, uma luz branca em forma de vulto apareceu, sentada num cadeirão semelhante ao do avô José. Sofia piscou repetidamente os olhos, querendo acreditar que aquilo não era verdade. Mas parecia que sim, pois aquela luz branca não se ia embora.
- Olá, Sofia. – saudou, tranquilamente. – Estás a ter um bom Natal, minha querida?
Sofia permaneceu imóvel, mas o seu receio desapareceu. Aquela voz tinha algo nela que a tranquilizava, soava-lhe familiar. Era, claramente, a voz do seu avô.
- Avô?! – perguntou, estupefacta.
- Sim, sou eu! – respondeu o avô José, soltando umas fortes gargalhadas. – Então, estás a ter um bom Natal?
- Bem… - suspirou Sofia. – Nem por isso, sabes? É que sem ti não é a mesma coisa…
- Ora, então porquê?
- Tu não estás cá e não vais poder contar uma das tuas belas histórias.
- Oh, minha querida…
A luz branca desapareceu subitamente, e agora via-se perfeitamente o corpo do avô José. Este aproximou-se da cama da neta, sentou-se ao fundo e disse:
- Como tu já deves ter reparado, as minhas histórias tinham sempre uma moral, que era a moral do Natal. Quero dizer, o Natal tem um fim, que é unir a família, e se eu não estou convosco, neste Natal, não quer dizer que não estejamos unidos. Porque nós nunca devemos esquecer os que partem, pois eles amar-nos-ão sempre. Eu, obviamente, também te amarei para sempre. Com as minhas histórias, não tinha como objectivo ser o centro da celebração natalícia, muito pelo contrário: queria que a família fosse o centro do Natal, pois esta deve unir-se cada vez mais, principalmente nesta época. Espero que percebas que eu não tenciono deixar-te triste com as minhas histórias; eu só quero que tu e todos os membros da nossa família ganhem mais o espírito de Natal, que fiquem mais ligados, mais unidos, mais afeiçoados. E sabes o que podias fazer para me deixares mais contente?
- Diz, avô! – exclamou a neta, contente por haver algo que podia fazer para alegrar o avô.
- Podias contar esta mesma história, agora, à meia-noite, pois também tem uma moral, igual a todas as outras histórias que eu já contei. Eu não poderei lá estar contigo em baixo, mas sabes que, quando olhares para o céu, seja de noite ou de dia, eu estarei lá, pois nunca deves esquecer aqueles que partem, nem pensares que eles já não gostam de ti. Percebes?
- Sim, avô, percebo. E se queres que o faça, eu faço.
- Fico muito contente por isso.
O avô José aproximou-se da neta, e deu-lhe um carinhoso beijo na testa. De seguida, desapareceu subitamente. Sofia chegou perto da janela do seu quarto, olhou para o céu e viu uma estrela mais reluzente que as outras, e teve a certeza que era o seu avô José.
Então, cumprindo a promessa feita, desceu as escadas com um ar muito satisfeito, sentou-se no cadeirão e anunciou:
- Agora vou contar uma história. Esta história é sobre uma menina e um Natal completamente diferente dos que ela já tinha vivido.
Assim, até ao final da sua vida, nos Natais que se seguiram, Sofia contou sempre a mesma história, vezes sem conta, mas nunca se fartou dela e da sua moral. Tinham, tal como as do avô José, um objectivo: transmitir o sentido do Natal e lembrar que os que partem amar-nos-ão sempre. Chegou a contar esta história aos filhos, aos netos, e até aos bisnetos!
Todos os Natais, à meia-noite, sentava-se num cadeirão, concentrava em si todos os olhares presentes na sala, e começava a contar:
- Esta história é sobre uma menina e um Natal completamente diferente dos que ela já tinha vivido.


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