Projeto 15/25 da Revista LER

Alguns alunos da nossa escola aceitaram o desafio da Revista LER, no seu Projeto 15/25, apresentado na nossa escola em outubro de 2012, e enviaram os seus trabalhos, cuja qualidade mereceu publicação.
Assim, a aluna Maria Barros, do 11º F, viu o seu texto "AMANTES DE RUA" publicado na Revista nº 122, de março de 2013 e a aluna Ana Baía, do 12º A, viu premiado o seu desenho "PESSOA HETERÓNIMO E ORTÓNIMO" na edição nº 123, de abril de 2013.
No entanto, o primeiro aluno a participar e ver o seu texto publicado, mesmo antes de a Revista vir à nossa escola, foi o João Pedro Martins, do 11º F, com o texto "O HOMEM", na revista nº 114, de junho de 2012.
Não queremos deixar de partilhar estes belíssimos trabalhos e dar os parabéns aos nossos jovens autores, que são um exemplo a seguir. Continuem! Votos de sucessos futuros!

AMANTES DE RUA

E eram tantos, tão grandes... envoltos em mantos, eram amantes. Dois a dois, ocupavam os seus lugares na rua cinzenta e começavam aquela dança lenta. Os grandes corpos entrelaçados debaixo dos mantos, como poemas cantados por sonhadores e outros tantos, movimentos harmoniosos, suaves, como o forte e pleno voo das aves, gestos determinados e prolongados em todas as direções, enquanto se ouvia a simultânea batida dos corações. E o cheiro era intenso e definido, como incenso de vidro, madeira velha, resina, caldo de açúcar a escorrer da terrina... a rua cinzenta agora era agitada, já não estava isenta, já não era nada. Tinha sido tocada, abraçada, molhada, vibrada, dançada. Por isso os amantes guardaram os mantos e deixaram a rua, partiram para outra nua e crua e fizeram-na sua. E assim há de ser sempre. 

Maria Teixeira de Barros


PESSOA HETERÓNIMO E ORTÓNIMO



  Ana Baía
O HOMEM
     Era o fim de uma tarde de abril, sem primavera nenhuma. Os carros do hipermercado, coloridos de ovos pascais, passavam, apressados, empurrando-se uns aos outros.
     - Quanto custa?
     - Um euro e trinta e sete...
     A expressão de desespero de um homem que nada tem para se alimentar afastou todos os meus pensamentos megalómanos sobre qual seria o modelo de telemóvel que iria comprar, sobre o que jogar na Playstation 3. E o Homem lá levou a cabeça de salmão.
     A partir desse momento segui o senhor que deambulava pelas arcas frigoríficas do hipermercado. Parou. Ficou a olhar com um misto de desejo e impotência para um cartaz enorme que abrangia toda a secção de congelados. Lia-se "Promoções de 50 por cento no polvo": apenas quatro euros. Para o Comum é um preço perfeitamente aceitável mas, para ele, representava um luxo inconcebível. Perdido, com a miséria estampada no rosto, percorreu três vezes o talho, observando minuciosamente todos os produtos. Perdido. Intimidado, com a cabeça de salmão na mão esquerda, passou para a secção dos enchidos. Era o Homem de que Sophia falava, aquele que passava despercebido pela população. Um misto de sentimentos percorria-o, mais uma vez. De ombros caídos, levava, na mão, o alimento da família. Contudo, sabia que era insuficiente.
     Dirigia-se para a caixa de pagamento com ar pensativo. Afinal de contas, o escasso orçamento tem de esticar. O desespero acompanhava-o nos tímidos e assustados passos, leves. Olhava para os demais, e via carros de compras atulhados de bens desnecessários, como o meu.
     Aquele que outrora pensava que estudar era um dado adquirido, aquele que pagava as quotas da Biblioteca Municipal e ficava de sorriso na cara por ser tão pouco, estava ali, a olhar, tolhido pela miséria alheia. O Homem desapareceu. Com a cabeça de salmão. Perdido no jogo de cores e de sons daquela superfície, continua ao nosso lado. Todos os dias. Despercebido.
     Afinal, o Homem não espelha só a miséria alheia. Reflete a miséria de uma sociedade, supérflua, que vê, impotente, insensível, egoísta, o Homem passar.
João Pedro Martins


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